quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

a minha fobia me desespera
acabo não sendo aquilo que todo mundo espera
querem que eu seja normal
mas quem disse que pagar de anormal é legal ?

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Mas nós não somos.

Que droga!
Uma geração inteira enchendo tanques de gasolina,
servindo mesas; escravos do colarinho branco.
Os anúncios nos fazem comprar carros e roupas,
trabalhar em empregos que odiamos para comprar porcarias que não precisamos.
Somos uma geração sem peso na história, cara.
Sem propósito ou lugar.
Nós não temos uma Grande Guerra.
Nem uma Grande Depressão.
Nossa Grande Guerra é a guerra espiritual...
nossa Grande Depressão é nossas vidas.
Todos nós fomos criados vendo televisão para acreditar
que um dia seríamos milionários e deuses do cinema e estrelas do rock.
Mas nós não somos.
Aos poucos vamos tomando consciência disso.
E estamos muito, muito putos.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

A euforia dos sentidos

A vitrola acomodada sobre os lençóis
Juntamente com uma lâmpada de mercúrio aceza
Agora ecoa um som quasímodo de tamanha beleza
Uma beleza não-visual fascinante
Timbres roucos, batidas dançantes, agudos faiscantes
Gritos visuais agora me tomam a mente
O que se ouve já não é mais o que se sente
O que se imagina é o que agora se pressente
Letras gritantes, mensagens fluorescentes
Nada mais disso é moda entre os adolescentes
Sentimentos sem sentidos;
Vozes rugem gravemente aos seus ouvidos
Embora agora escute em alta dosagens
Entende pouco e sentimentos deram lugar á viagens
Tudo agora é misturado; papel amassado, um rabisco rosa choque envernizado
Exposão de sentimentos: felicidade e agonia em todos os estados;
Agora são pontos ligados; timbres intercalados
Virando tudo apenas mensagem subliminar
Como sentir o ápice do calor sem soar
Furacão e erupção de cor;
Indefinidamente se é ódio ou amor
Já que o sentimento que predomina é a dor.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Somebody called me on the phone
they said hey, is Dee Dee home
do you wanna take a walk
do ya wanna go and cop, do ya wanna go get some chinese rocks?

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Amo a recordação daqueles tempos nus
Quando Febo esculpia as estátuas na luz.
Ligeiros, Macho e fêmea, fiéis ao som da lira,
Ali brincavam sem angústia e sem mentira,
E, sob o meigo céu que lhes dourava a espinha,
Exibiam a origem de uma nobre linha.
Cibele , então fecunda em frutos generosos,
Nos filhos seus não via encargos onerosos:
Qual loba fértil em anônimas ternuras,
Aleitava o universo com as tetas duras.
Robusto e esbelto, tinha o homem por sua lei
Gabar-se das belezas que o sagravam rei,
Sementes puras e ainda virgens de feridas,
Cuja macia tez convidava às mordidas!

Quando se empenha o Poeta em conceber agora
Essas grandezas raras que ardiam outrora,
No palco em que a nudez humana luz sem brio
Sente ele n'alma um tenebroso calafrio
Ante esse horrendo quadro de bestiais ultrajes.
Ó quanto monstro a deplorar os próprios trajes!
Ó troncos cômicos, figuras de espantalhos!
Ó corpos magros, flácidos, inflados, falhos,
Que o deus utilitário, frio e sem cansaço,
Desde a infância cingiu em suas gases de aço!
E vós, mulheres, mais seráficas que os círios,
Que a orgia ceva e rói, vós, virgens como lírios,
Que herdaram de Eva o vício da perpetuidade
E todos os horrores da fecundidade!

Possuímos, é verdade, impérios corrompidos,
Com velhos povos de esplendores esquecidos:
Semblantes roídos pelos cancros da emoção,
E por assim dizer belezas de evasão;
Tais inventos, porém, das musas mais tardias
Jamais impedirão que as gerações doentias
Rendam à juventude uma homenagem grave
- À juventude, de ar singelo e fronte suave,
De olhar translúcido como água de corrente,
E que se entorna sobre tudo, negligente,
Tal qual o azul do céu, os pássaros e as flores,
Seus perfumes, seus cantos, seus doces calores.

Baudelaire.

A ver-nos no inverno...

No inverno, iremos num trenzinho cor-de-rosa,
De almofadas azuis.
Só para nós. Um ninho ébrio de beijos pousa
Nos fofos que possuis.

Os olhos fecharás, à noite, na vidraça,
Para não veres as caretas
Das sombras, esse esgar de monstros-populaça
De negros lobos e capetas.

Elogo sentirás que tua face arranha...
Um beijo pequenino, igual a louca aranha,
A correr no pescoço...

E me dirás: "Procura!", inclinando a cabeça:
- E levaremos tempo a encontrar a travêssa
Que viaja um colosso...

Arthur Rimbaud

sábado, 7 de novembro de 2009

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?


Luís de Camões.